sábado, 10 de janeiro de 2009

A Celtibéria e o Mysterio

Na maior parte das vezes, quando falamos dos povos Celtas vem-nos à mente a Escócia, Irlanda, Bretanha, mas... e os povos Celtibéricos?

Segundo os mais recentes estudos, sobretudo ao nível linguístico, tudo aponta para que as raízes do próprio gaélico se encontrem na Península Ibérica. Curioso não? Ironicamente, trata-se do único território onde a língua celta se perdeu totalmente, ao contrário do que aconteceu com o bretão, o gaélico escocês e irlandês, e até mesmo o "manx".

Por que raio pouco ou nada subsistiu até aos nossos tempos?!... Os irlandeses, galeses, bretões, viram parte da sua mitologia mais remota subsistir, ainda que "alterada", até aos nossos tempos, graças às tradições orais, bem como a registos literários, lembremo-nos do caso dos monges irlandeses, p.ex., uma das principais fontes consideradas mais ou menos "fidedignas" ou, pelo menos, contendo uma "chispa" do pensamento dos antigos celtas...

Pois é, parece que a Ibéria sofreu um "apagão" geral no que toca à sua antiga mitologia, história, cosmogonia... Isto certamente é devido, em grande parte - pelo menos - à imposição dogmático-religios-doutrinária da Igreja. Nem os nomes dos deuses nos dias da semana nos deixaram... e parece que esta "perseguição cultural-espiritual" atingiu, dentro da Península, sobretudo o território português. Quer em castelhano, como no galego, por exemplo, se manteve os dias da semana com os nomes dos deuses romanos: "lunes" (em castelhano) - Segunda-feira.

Efectivemente, houve um rompimento a três níveis "do ser ibero" com a sua "identidade":

1) O rompimento com os ancestrais e a memória da tribo
2) O rompimento com uma ligação sagrada à terra que nos sustenta e providencia a nossa própria sobrevivência
3) O rompimento com os deuses e a divindade

Como poderemos, então, hoje em dia, efectuar esta "re-ligação" com os vários planos? O que terá hoje de útil e benéfico para nós esta procura e este "despertar"? Triste é o povo que não conhece o seu passado, as suas raízes, é como uma árvore com um tronco inseguro, que não resiste a uma tempestade, pois não está seguro... é como uma árvore cujos frutos não têm sabor, não têm cor e não têm nome. Porém, as raízes estão lá, ainda que invisíveis. Elas precisam da escuridão para mergulhar nas profundezas da nossa mãe, a Terra, e aí procurar nutrir a árvore. Não procuremos, assim, desenraizar a árvore, mas, antes, conhecê-la. E que melhor forma de conhecer as suas raízes do que olhar para o seu espelho, os ramos?

Teimosamente, o interesse pela redescoberta dos nossos antigos costumes e cultos está, hoje, em franco crescimento. Grande parte deve-se, certamente, a Leite de Vasconcellos, arqueólogo e pesquisador incansável, que palmilhou o nosso país de lés-a-lés no início do século passado, procurando "cacos antigos" e "coisas dos mouros"... homenagem lhe seja feita.

Resumidamente, pouco ou nada temos de certo que nos indique os atributos de um deus, o simbolismo de um monumento precipitadamente categorizado como sendo apenas "funerário" ou "devocional". Pouco ou nada temos, no entanto, é uma prestigiosa aventura mergulhar no passado intemporal e procurar desvelar, pressentir pequenas facetas, pequenos traços, de um grande todo, do qual hoje apenas conhecemos certos aspectos. Certamente a especulação é sempre algo subjectivo, mas isso não nos impede de especular. O máximo que pode acontecer é não chegarmos a nenhuma conclusão que possa ser considerada como "a verdadeira".

Mas não será uma aventura que vale a pena ser vivida?...

Certamente este caminho poderá trazer-nos muitas surpresas, que deixarão muita gente surpreendida...

11.1.2009

3 comentários:

  1. Que seja uma aventura digna de canções e estórias para as gerações futuras.
    Todos juntos iremos conseguir!
    /|\
    C.

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  2. Eu acho que é uma aventura que não pode deixar de ser vivida, se queremos saber quem somos.

    :)

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  3. Inspirar em nosso ancestrais, saberemos onde paramos e como devemos continuar,

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