quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Reflexões a propósito de Ogma / Ogmios

O deus Ogma (irlandês) e Ogmios (gaulês) representam, muito provavelmente, a mesma divindade, à qual se atribui a invenção do alfabeto Ogham.

Segundo Luciano, Ogmios é descrito como um homem calvo, transportando um arco e uma clava. É seguido por um grupo de homens com boa disposição, que têm as suas orelhas presas a correntes que estão ligadas à língua do deus.

A faceta guerreira de Ogma, atestada pelas suas armas guerreiras - o arco e a clava - encontram-se bem claras na mitologia irlandesa, onde combate do lado dos Tuatha de Dannan contra os Fir Bolg e os Fomorianos, na conquista da Irlanda. Alguns autores vêem nas correntes presas às orelhas dos homens um símbolo da sua eloquência, que se manifestaria, arquetipicamente, e em particular, no turbilhão emocional provocado pelo discurso que antecede a batalha.

Temos, assim, duas armas principais e visíveis, que são usadas pelo deus no plano exterior: o arco - que serve para atacar a grande distância -, e a clava - usada para combate corpo-a-corpo. A clava representa, provavelmente, a arma de guerra primordial, utilizada desde o alvorecer da humanidade na Terra. Representa a força bruta, primal, explosiva. Por outro lado, o arco simboliza a evolução do homem, o seu intelecto, subtileza a argúcia. Ogma representa assim, numa primeira leitura, o arquétipo do guerreiro que existe na memória atávica de cada Homem, desde o seu "nascimento" até ao seu estado actual.

Numa segunda "camada" encontramos as correntes da eloquência. Um bom discurso é uma arte, requer fogo, inspiração, paixão e força. Quando reúne estes atributos, reúne também aqueles em seu redor, que se sentem "ligados" ao seu transmissor, que age como um canal. Neste sentido, o discurso, através do uso da palavra, é também uma "arma". Mas infinitamente mais poderosa, e que subsiste e vive para além da matéria. Existem relatos do poder tremendo que os bardos detinham na sociedade celta, podendo, pelo poder da sua palavra, impedir um combate, por exemplo. Esta arma, então, é como uma espada, tem dois gumes. Um deles é construtivo, o outro destrutivo... Encontramos aqui a ligação ao alfabeto Ogham, dito "alfabeto das árvores", embora a sua simbologia possa ir para além das árvores, sendo um alfabeto iniciático, como as runas e outras escritas antigas. Subsistem alguns tratados medievais de Ogham, com algumas indicações dos seus mestres escribas, mas a sua decifração é nebulosa... quem terá a coragem e a inspiração necessárias para os compreender?

2 comentários:

  1. Parabéns! Além de estar muito bem escrito, apresenta dados muito interessantes que irão agradar todos os leitores deste blogue.

    Abraço,
    JP

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